sexta-feira, 6 de março de 2009

Curiosidade

enviado por Déborah Donegá Saggin

Todos nós, vocacianos, estamos lutando para resgatar a memória do ensino vocacional.
Entretanto, no inconsciente coletivo barretense, o Vocacional continua muito vivo.
Vejamos: há 40 anos o ensino vocacional foi extinto. O Ginásio Vocacional foi então denominado Ginásio Estadual Embaixador Macedo Soares. Até hoje, a população se refere à escola como VOCACIONAL.
Existem "boatos", que o Secretário da Saúde do municipio, pretende mudar o nome da "Cidade da Saúde", para " VOCACIONAL DA SAÚDE".
Só esses dois fatos, provam, ou nos levam a acreditar, que na memória barretense, o vocacional ainda existe, e o melhor, está vivo.Até por quem nem sabe o que foi o Vocacional.
Humberto Saggin

quinta-feira, 5 de março de 2009


[BASTIDORES]

Como todo segmento político, educacional, sócio-econômico, cultural, etc... nós também que um dia fomos do Ginásio Vocacional de Barretos, ou das outras unidades do Estado de São Paulo, do (GV), como ex-alunos, ex-professores, ex-orientadores pedagógicos, ex-secretários(as), ex-funcionários, etc...também temos nossos "BASTIDORES", e fiquem certos que o BASTIDOR daqui do GV de Barretos, existiu e é farto de notícias que ficaram guardadas por muitos nesses 40 anos.
Informo à todos que a participação é mais do que aberta para quem quiser nos enviar alguma notícia que represente algum fato, seja bom ou ruím, isso não importa. Mas que essas notícias tenham suas fontes fidedignas uma vez que não podemos cair no erro daquela velha história do "ouvi falar", mas sim uma fonte que comprove a veracidade da informação.
Não importa se são notícias curtas ou não o importante é que todos vocês participem sem medos, pois, como dizem, vivemos num país emergente, com uma Democracía plena, etc.
Como por exêmplo, se algum de vocês já ouviram falar nas professoras: LUCY DE LUCA e VERA CARDOSO, podem acreditar que eram mesmo agentes do Dops e foram as algozes quando deram a luz verde para que o GV de Barretos fosse invadido, como de fato ocorreu tanto por policiais militares, civis, federais e do então Serviço Nacional de Informação o conhecido (SNI), Além é claro da Polícia do Exército. O nome de ambas constam do livro escrito pelo médico Matinas Suzuki; denominado "MEMÓRIAS DE UM VIVENTE OBSCURO".
Esse fato para quem não sabe, resultou também nas prisões de ELIZABETH CHINALIA (Diretora), MARIA MEDEIROS (Orientadora Vocacional) e de VEREDIANA TUPINAMBA BRANDÃO SUZUKI (Presidente da APM) três senhoras que sofreram vários tipos de torturas nos porões da Ditadura Militar em Campinas/SP nas dependencias do exército.
É isso aí. Meu abraço fraterno à todos
Humberto Saggin.

"UM POUCO MAIS DA HISTÓRIA DO GV"

"AQUI TEMOS UM POUCO MAIS DA NOSSA HISTÓRIA, REALIZADA PELA REVISTA ISTOÉ, QUANDO COMPLETOU-SE 10 ANOS DO FECHAMENTO ABRUPTO DE TODOS OS VOCACIONAIS EXISTENTES NO BRASIL, SENDO TODOS LOCALIZADOS NO ESTADO DE SÃO PAULO. SEI QUE TEXTO É UM POUCO GRANDE MAS É DE UMA ENORME PROFUNDIDADE, PRINCIPALMENTE POLÍTICA/DIDÁTICA".
Humberto Saggin.

COLÉGIO VOCACIONAL-SP
Dez anos sem uma escola inovadora
ISTO É 26/12/1979
A polícia acabou com a experiência na pancadaria
Ângela Ziroldo

Foi a mais importante experiência pedagógica brasileira, em nível médio.
Começou em 1962 em São Paulo, Americana e Batatais, estendendo-se depois para Rio Claro, Barretos e São Caetano do Sul. Mais de 7 mil técnicos em educação passaram por estágios nestes colégios, aprendendo uma maneira nova de ver a educação. E mais de 5 mil alunos – desde os filhos da elite paulistana até os operários em tecelagem de Americana ou do frigorífico da Anglo, em Barretos – passaram pelo processo educativo.
No dia 12 de dezembro de 1969 policiais invadiram as seis escolas, prendendo professores e pais de alunos, decretando o fim dos colégios vocacionais. Dez anos depois fica fácil perceber por que a experiência foi esmagada. Dentro do panorama do ensino médio brasileiro, os colégios vocacionais eram uma
verdadeira anomalia. Antes havia apenas dois tipos de colégios – os convencionais,

que preparavam estudantes para carreiras liberais, e os técnicos, que encaminhavam as crianças de menor poder aquisitivo para o trabalho profissional. O vocacional surgiu para acabar com esse determinismo.
Luciano Carvalho, secretário da Educação do Estado de São Paulo na época, formou uma comissão de educadores para elaborar um projeto piloto de educação que levasse em conta a vocação do aluno e abrisse as portas da escola para a comunidade e suas aspirações. Maria Nilde Mascellani, pedagoga com dezenas de cursos de especialização que coordenara as “classes experimentais”, germe dos colégios vocacionais, em Socorro, pequena cidade do interior do Estado, foi convidada a participar e se tornaria a coordenadora do SEV (Serviço de Escolas Vocacionais).
Com pequenos recursos e profissionais especialmente preparados, surgiram então os vocacionais – uma escola diferente em tudo. Os alunos passavam o dia inteiro no colégio. Pela manhã se dedicavam às matérias obrigatórias e à tarde trabalhavam nas áreas de prática comerciais, economia doméstica e artes industriais, segundo sua escolha. Para as escolas eram dotadas de outros equipamentos que não os
convencionais: galpões com tornos mecânicos, salas com máquinas de escrever, salas de música e artes plásticas.

Currículo integrado. Mas o aspecto material não era o mais importante. Ao contrário dos colégios tradicionais, o currículo não era um amontoado de matérias sem ligação entre si. Havia uma integração curricular. Estudos sociais, que não se referia apenas à história e geografia, mas utilizava conceitos de economia e antropologia, determinava um tema que era trabalhado em todas as outras áreas.
Também se partia da realidade mais próxima do aluno, num processo evolutivo de aprendizagem. No 1º. Ano estudavam-se a comunidade e a cidade onde viviam. Depois o Estado, o país e finalmente o mundo. Tudo a partir de estudos do meio, quando os alunos em equipes faziam entrevistas em residências, casas comerciais, fábricas e clubes.
“Parece incrível”, conta Armando Figueiredo de Oliveira Neto, 28 anos, aluno da segunda turma do vocacional em São Paulo, “no primeiro ano, para fazer o levantamento da comunidade, fomos descobrir como o IBGE trabalhava, como eram seus questionários”. Esta descoberta da comunidade – no caso, o Brooklin, onde ficava a escola em São Paulo – era reforçada na aula de português, por exemplo, com pesquisa de textos sobre o bairro, entrevistas com escritores que moravam ali. E todas as matérias tinham este sentido integrador. Pag 23
Quando os alunos partiam para estudar o Estado de São

Paulo havia o intercâmbio entre os alunos da capital e do interior
Literatura e impostos. Armando participou, na terceira série, de uma viagem a Minas Gerais. “Não era uma excursão. Antes de cada viagem discutiam-se os objetivos, tudo era cuidadosamente planejado pelos alunos e professores”, conta Armando. Em Belo Horizonte as equipes visitaram bibliotecas, bancos, centros de pesquisa, fazendo levantamentos sobre os mais diversos assuntos: impostos, ciência ou literatura. Depois de um programa intenso nas cidades históricas, na gruta de Maquine e na mina de Ouro Velho, História, arte, economia, geologia e antropologia – uma formação interdisciplinar era o resultado final desses vinte dias de estudo do meio. Como o curriculo fugia às regras, vezes os alunos tinham duvidas sobre a espécie de formação que estavam recebendo

Como o currículo fugia às regras, muitas vezes os alunos tinham dúvidas sobre a espécie de formação que estavam recebendo. “Principalmente a partir da terceira série começavam a surgir muitas dúvidas entre nós”, conta Pedro Paulo Manus, assistente de juiz do Tribunal do Trabalho, diretor da Associação de Professores da PUC, aluno da primeira turma do colégio vocacional. “Quando meus irmãos que estudavam em outras escolas perguntavam quantos ossos tem o dedo mínimo, eu me sentia inseguro. Eu não havia aprendido isso e me perguntava se conseguiria sair bem no colegial, que teria que ser feito em outra escola.”
Os alunos do vocacional realmente dispunham de um número menor de informações que os alunos das escolas convencionais. Pedro Paulo Manus descobriu, entretanto, que isso não era um grande obstáculo. Quando entrou para o curso clássico no Colégio Alberto Conti, apesar de dispor de menores informações que os outros alunos, ele sabia onde procurá-las. Tinha um instrumental de pesquisa, de solução de problemas de que os outros alunos só disporiam na universidade.
Armando concorda com ele: “O método usado no vocacional era socrático, onde se aprendi a partir dos problemas. Havia um nível de discussão que eu jamais encontrei em nenhuma escola. Nós não éramos preparados para entrar na universidade. Eles nos preparavam para a vida”.
Contra o autoritarismo. Na sala de aula o professor não era um rei, senhor absoluto de todo o saber. Ele podia ser contestado e era com muita freqüência. Não havia autoritarismo, tudo era resolvido através de discussão e cultivava-se o trabalho de equipe eliminando a competição individual e o culto do melhor aluno. O vocacional não se propunha fazer a avaliação apenas das habilidades mentais do aluno, mas de suas aptidões gerais. Além disso havia auto-avaliação e a avaliação pelo grupo. Isso levava os alunos do vocacional a formarem critérios de valoração e julgamento, libertando-os do parecer do professor.
A toda esta concepção de educação juntava-se o cuidado de também envolver os pais no processo educativo. Eles participavam intensamente do colégio vocacional em reuniões e assembléias. Foram também duramente atingidos quando a experiência foi esmagada. Ainda hoje, dez anos depois, o jornalista Armando Figueiredo, em São Paulo, fala com muita mágoa do fim do vocacional. Para ele, a experiência teve que ser extirpada porque uma escola que participava diretamente da vida da comunidade “não servia”. “Ela chocou tanto, com sua resposta inovadora, que foi logo promovida a célula comunista. Sem contar a reação do pessoal da Secretaria da Educação que desde o início se opôs ao projeto. Eles estavam presos em seu imobilismo, acostumados a dar uma aulinha e ir embora.”
Contra os padrinhos. Em 1965 a diretora do colégio vocacional em São Paulo não quis submeter-se a uma ordem do secretário da Educação de arrumar vaga para aluno que ele apadrinhava. Foi então afastada e todos os técnicos do vocacional colocaram seus cargos à disposição. A mobilização dos pais fez com que todos fossem reintegrados. Nos anos seguintes o vocacional encontraria novos rumos, dirigindo-se aos estados mais carentes da população. Em 1967 começaram o curso colegial e o ginásio noturno, este para alunos que trabalhavam. Neste momento a clientela do vocacional começou a mudar, principalmente em São Paulo, onde era, até então, muito procurado por uma elite.
Depois surgiram os cursos experimentais, completamente abertos a comunidade. Nesses cursos, rotativos, com duração de três meses a um ano, ensinava-se aquilo que as pessoas quisessem aprender.

“Foi uma loucura”, conta Maria Nilde Mascellani. “Em uma semana fomos procurados por mais de 1.500 candidatos que queriam aprender desde economia doméstica, desenho, contabilidade, alfabetização até manicure. Eram pessoas cuja idade variava de 14 a 40 anos, de baixa renda, que viam a sua primeira oportunidade de educação.”
Esta experiência duraria apenas alguns meses. Em 1969 Maria Nilde foi afastada sem maiores explicações e a diretora do colégio vocacional de Americana foi descomissionada. Depois da invasão do dia 12 de dezembro, das prisões e interrogatórios, a Comissão Especial de Investigações conclui que, se a equipe do vocacional não era subversiva, o método era.
Ovo choco. A experiência foi encerrada e os estabelecimentos de enquadraram dentro do padrão de escola pública, pobre e limitada. O medo tomou conta de tal forma que até mesmo os painéis pintados pelos alunos no colégio de Batatais, contando a história da cidade, foram raspados para que não restasse nenhum vestígio de criatividade e participação.
Um operário do curso noturno, ao saber que não haveria mais curso, definiu bem a situação: “Bem que eu estava desconfiando de que era demais para continuar. Pobre, quando encontra um ovo, está choco”.
Hoje Maria Nilde Mascellani acredita que o vocacional serviu para despertar os técnicos e professores para uma nova visão de educação. “Mas eu não retomaria essa experiência. Uma experiência exige clima de liberdade e tem que ser adequada ao momento histórico. Os novos tempos exigem novas experiências. Além disso, acho que nós evoluímos no sentido de perceber e descobrir novas dimensões e problemas de educação.” Sua proposta atualmente é um trabalho com caráter popular, ligado às organizações populares. Não que ela despreze a educação a nível institucional, ou não veja a validade dela. “Mas para isso seria necessário que nós voltássemos a uma democracia.”

ISTOÉ 26/12/1979




















Digitado pro Marta Rosell Marques Enviado por Luigy
Luiz Carlos Marques turma 63

luigymarks@uol.com.br



COLÉGIO VOCACIONAL-SP
Dez anos sem uma escola inovadora
ISTO É 26/12/1979
A polícia acabou com a experiência na pancadaria
Ângela Ziroldo

Foi a mais importante experiência pedagógica brasileira, em nível médio.
Começou em 1962 em São Paulo, Americana e Batatais, estendendo-se depois para Rio Claro, Barretos e São Caetano do Sul. Mais de 7 mil técnicos em educação passaram por estágios nestes colégios, aprendendo uma maneira nova de ver a educação. E mais de 5 mil alunos – desde os filhos da elite paulistana até os operários em tecelagem de Americana ou do frigorífico da Anglo, em Barretos – passaram pelo processo educativo.
No dia 12 de dezembro de 1969 policiais invadiram as seis escolas, prendendo professores e pais de alunos, decretando o fim dos colégios vocacionais. Dez anos depois fica fácil perceber por que a experiência foi esmagada. Dentro do panorama do ensino médio brasileiro, os colégios vocacionais eram uma
verdadeira anomalia. Antes havia apenas dois tipos de colégios – os convencionais,


quarta-feira, 4 de março de 2009

EDITORIAL

Daqui de Barretos, estarei "blogando" as notícias ( que são muitas), do que está acontecendo aqui.
Após a última confraternização em São Paulo, a Elisete Tedesco, uma das nossas representantes no GVIVE, conseguiu reunir uma turma de peso, para agregarmos nossas memórias.
Assim, em fevereiro/09, estiveram aqui Luigy (Luiz Carlos Marques) - Presidente do GVIVE, o Eduardo Amos; também ex-aluno, representante da gvive de Rio Claro e atual professor aposentado, que se dispõe a fazer palestras, participar de eventos, etc, tudo para falar da importância do Sistema de Ensino Vocacional, e Satie Wada, ex-aluna, cineasta e responsável pelas filmagens de vários depoimentos.
Aí lá fomos nós para o Hotel Berrante Dourado, do nosso colega Conrado, e ali fizemos gravação do depoimento da professora Shuishen, que foi emocionante.
Como também o depoimento do professor Espedito, que foi feita dentro do predio do Vocacional, onde funcionava o laboratório. Esse depoimento levou todos nós às lágrimas, aí todos nós o aplaudimos de pé, deixando-o ainda mais comovido. Ele simplesmente contou toda a história da nossa escola, até o abrupto final.
Foi feita também uma entrevista com o vice-prefeito Mussa Calil Neto, Secretário Municipal da Saúde, que, nos assegurou uma ampla sala para que fizessemos o "Memorial do Vocacional de Barretos", dentro do prédio, onde será exposta a nossa história, como também todo o material que conseguirmos recuperar, pois muitos deles foram queimados . Esperamos contar também, com a ajuda dos colegas, que tenham material, que eles possam ser disponibilizados para a digitalização, para agregarmos ao acervo que conseguirmos. Esse material que nos for cedido será devolvido.(Também aceitamos doações).
Essa visita, com o estudo do meio ao predio da escola, acendeu nosso desejo de não deixarmos nossa escola morrer.
Não podemos nos esquecer, que este ano completa QUARENTA ANOS DE EXTINÇÃO DO ENSINO VOCACIONAL . No dia 12/12/1969, às 12 horas, o nosso sonho foi interrompido.
É hora de nos unirmos para não deixarmos essa história de sucesso educacional ser enterrado como queria a ditadura militar, nos estigmatizando como subversivos e comunistas.
Todos nós, os vocacianos, somos cidadãos conscientes de nosso lugar na sociedade, e temos nosso espaço na história do ensino brasileiro.
Não podemos deixar, de maneira alguma, essa história, que é um
sucesso, ser enterrada nos porões da ditadura militar.

Sem mais, meu abraço fraterno
Humberto Saggin