quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

E como eu ia dizendo...Dorinha

Oi Elizete , tudo bem ?

Menina, que bonito ver os relatos deste moço Dalton, que estudou no nosso Vocacional .
Não me lembro dele, acho que minha turma já tinha saído do Vocacional, como vc sabe, entrei em 1965 e saí de lá no final de 1968.
Porém ele disse que lembra do Abílio, do Luizinho Lemos de Toledo, e me pergunto como?
Eles eram da minha turma, e o Luizinho ainda saiu antes de completar a 4 série ginasial e foi pra outra escola. O Abílio sim continuou, o Rodrigo irmão do Abílio e a Maria Ângela irmã deles. A Marina Toledo, é a ex mulher do dr. Eurico Pelissari, realmente ela tb estudou lá.
O Henrique Prata era uma turma depois da minha, aliás o Vocacional misturava todas as classes sociais e isto era bom. Tinhamos colegas de familia tradicional e ricas, como tb os de classe média, e os de classe pobre; e interessante, é que ñ havia nenhuma descriminação entre os colegas. Muito positivo para escola, numa sociedade cheia de ranço, que era a sociedade pecuarista de Barretos. Posso falar pq meu avô tb era fazendeiro.
É muito bom poder fazer parte desta familia Vocaciana. Amávamos a nossa escola.
E nos tornamos todos cidadãos conscientes de seu mundo .
Beijos a todos ex Vocacianos ,

Dorinha Vitali

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

DEPOIMENTO (2a parte) Dalton Souza T66 -

Depoimento Dalton :
(2ª parte) Continuação...

"NENHUM VOCACIANO É NORMAL... TODOS SOMOS INQUIETOS E ETERNAMENTE INVESTIGATIVOS"

Eis que:

Nesta quarta-feira pela manhã, estou com os olhos inundados das lágrimas que não verti durante estes anos todos. Mas acho que talvez, minh'alma, já tão aflita, precisava deste momento de desabafo. Eu não consegui esquecer diversas passagens de minha história, mas a do Vocacional ficou como algo parado no ar. Um grito que não se calou. Para mim não se trata apenas de reminiscências, mas de uma explicação que meu passado deve ao meu futuro.



Enfim, mudamos, mas ainda um pouco perdido pelos caminhos empoeirados pela memória (meu amigo Tarcisio Botelho de Paula adorava quando eu dizia isto), ainda vou tropeçar em coisas passadas no prédio velho.

Na primeira série, como já disse, estudávamos a cidade de Barretos. Nossos estudos do meio eram, portanto, realizados quase nos quintais de nossas casas.
Visitamos o CEAGESP com o Professor Daniel Bampa Neto, por exemplo. O que era interessante, é que o professor da matéria contava com a ajuda de outros professores de outras matérias completamente diferentes para auxiliá-lo a nos vigiar durante os trabalhos. Assim, A Dna. Kohar de Ciências, por exemplo, ajudava o Professor Cleomar de Práticas Agrícolas, durante uma visita à fazenda do fazendeiro Juca Jacinto.

Como passávamos o dia inteiro no ginásio (era o chamado período integral), tínhamos a sensação de estarmos em família. Cansei de ver professoras aninhando cabeças de algumas alunas em seu colo quando elas choravam (até hoje não sei porque, mas choravam o tempo todo). Quando alguns de nós, os meninos, fazíamos algo de errado, os professores homens conversavam com a severidade devida, porém, sem perder a ternura (já ouvi isso em algum lugar). O que é mais incrível, é que dificilmente nossos pais eram comunicados de alguma indisciplina cometida. Tudo era resolvido dentro do colégio. Havia uma cumplicidade velada entre os alunos e os professores.
Muito poucos tinham idade para ser nossos pais, por isso a relação de respeito se dava em outra esfera. Eram nossos irmão mais velhos.
Com relação às jovens professoras, às vezes surgiam admirações platônicas por parte dos garotos. Lembro da Dna. Marielza, professora de inglês, que não escondia sua predileção pelo Luciano (Luciano Alexandre Ferreira). Outro aluno mais velho, que ela gostava muito, era o Abílio (Abílio Junqueira Franco, já falecido). Mas "admirar" messsssmo, toda a rapaziada era unânime . Dna. Neila de educação física.

Nos intervalos (que eram chamados de recreação) praticávamos diversas atividades. Tênis de praia ( frescobol ), tamborete, boliche, ping e pong, ou simplesmente fazíamos arremessos numa cesta de basquete. Não preciso lembrar que ficávamos imundos, pois a escola ficava na periferia da cidade e quase tudo era chão de terra.

O Professor Antonio Possato também era dos mais populares. Sempre dava aula com um bendito xilofone na mão e ilustrava musicalmente o que queria dizer. Às vezes usava uma flauta doce branca, até que um dia mostrou uma flauta que ele disse ser indígena e também podia ser chamada de "flauta nasal". Por que? Porque os índios sopravam-na usando o nariz. A Tania, minha colega de classe pediu: "professor, toca com o nariz pra gente ver?". O jovem professor de música ficou vermelho e disse :"Não...é muito feio" .Passamos o ano insistindo, mas ele nunca usou o nariz na flauta.

Lembro-me que quando passamos para a segunda série, O professor Expedito substituiu a Profa. Zaíra de Estudos Sociais. Passou a dividir a cadeira com a Dna. Gláucia. Uma das características dele, era escrever muito o que dizia no quadro. Pois bem, um dia eu percebi que minha leitura estava dificultosa. O Professor percebeu (não sei como) que eu estava lendo com sacrifício. Sugeriu que eu procurasse um oftalmologista. Não deu outra. Aos doze anos comecei a usar óculos por causa da miopia que me acompanha até hoje.
O Roberto Pinto, lembrou muito bem, do pão com goiabada do lanche. Mas eu me lembro também das famosas laranjas (já descascadas) que nos eram servidas. Depois de devidamente chupadas, os bagaços se transformavam em poderosas armas que eram atirados uns contra os outros. Não sei porque, eu era sempre o alvo principal. Acho que era por causa da minha cara de "nerd".

Aliás , falando no prof. Antonio, lembro-me que ele nos ensinou que a musica popular tinha como característica o fato de, após seu lançamento, atingia um auge e depois era deixada de ser executada nas rádios. Para exemplificar o que dizia, comentou: "Até o final deste ano (abril de 1966), ninguém mais vai ouvir "Quero que vá tudo pro inferno".
A trilha sonora desta época era toda pautada pelo início da Jovem Guarda. Sim, início, pois o Ronnie Von tinha acabado de ser lançado com a música "Meu bem" (uma versão de uma canção dos Beatles). A Tania, que estava na minha classe, adorava e cantava o tempo todo.
Wanderleya cantava direto na Radio Barretos ( PR J8) "...meu amor me disse assimmmm, assimmmmm...boa noite!!!", Erasmo Carlos gritava "você me acende", Eduardo Araújo era "o bom", enquanto Roberto Carlos insistia em mandar todo o mundo para o inferno.

Acho importante situar a realidade que vivíamos. Barretos nesta época não tinha televisão. Eu ainda era um menino que vinha com muita freqüência para São Paulo e , por esta razão, tinha uma noção do que estava acontecendo. Em plena época da revolução cultural e comportamental da juventude da época, os adolescentes barretenses tinham como referencia as músicas que tocavam nas rádios, os jornais que chegavam no dia seguinte e os filmes que também demoravam muito para serem projetados nas telas dois cinemas (Cine Centenário e Cine Barretos).
Toda esta geração, ficava com as antenas ligadíssimas em tudo o que pudesse significar informação. Aí se deu a grande importância do Vocacional. A moda (mini saia, sapatos de salto carrapeta, camisas de gola alta, calças justíssimas), que sempre esteve intimamente ligada às atitudes contestatórias de todos o jovens de qualquer geração, era muito mais potencializada pela geração que começou a usar pílula anticoncepcional, cabelos longos para os rapazes, ritmos musicais mais rápidos. O movimento da jovem guarda, por incrível que pareça, mantinha uma certa ingenuidade nas letras de suas musicas. Isto vinha a calhar com o aflorar das paixões daqueles meninos que tinham acabado de entrar para o ginásio. A facilidade com que gostávamos de uma garota era absurda. Pensávamos que éramos adultos.
Olhares lânguidos eram trocados durante as aulas, meninas cruzavam as pernas com suas minissaias, fazendo com que a imaginação dos garotos voasse longe..., quantas vezes nós fizemos fila para apontar o lápis no cesto perto do quadro, só para ver alguma aluna incauta que tinha esquecido de se sentar mais cuidadosamente.

Nós então, parecíamos pavões. Os cabelos eram constantemente penteados com aqueles pentes "flamengo", que eram vendidos até na cooperativa.
Pouca coisa nos chegava, informando que em São Paulo e nos grandes centros, travava-se uma verdadeira guerrilha urbana de estudantes e operários contra o regime que havia. As notícias eram vagas.
Aí nossos professores foram importantes. Nossos irmão mais velhos comentavam. Davam até suas opiniões. O mais importante...faziam-nos pensar. Até na hora do almoço os assuntos não paravam.
O vocacional permitia que você optasse o tempo todo. E a vida da gente nada mais é, do que uma eterna sucessão de escolhas.

Nosso almoço, no começo, era trazido de nossas casas, em enormes marmitas térmicas, algumas padronizadas em tom xadrez, tal qual um kilt. Eram levadas de kombi pelo pai do Marcelo (Marcelo Marque Galvão), que também era dono da Casa Franco, que ficava na Av. 21.
Imaginem só, uma pessoa passar todos os dias na casa de quase todos os alunos da escola, recolhendo marmita e, depois devolvendo.
Com o tempo, já no prédio novo, Dona Sayoku Sato era a dietista e coordenava a cozinha e a preparação dos almoços, que contava sempre com uma equipe que, além de cozinhar, também servia os demais nas bandejas.
Tinha o primeiro almoço. Depois tocava o sinal e a segunda turma corria para a fila para pegar os talheres e almoçar.

Lembrei de algo interessante. Quando começamos a estudar no prédio novo, o espaço era tão grande, mas tão grande, mas TÃO GRANDE...que a campainha do sinal não dava conta de atingir todas as salas. Por isso, ficamos um bom tempo usando o apito do professor de educação física para avisar os finais de aula e etc..

Muitas vezes a secretária pedia a um aluno que tocasse o apito. Tinha que apitar dentro do prédio e também fora, pois havia sempre muita gente fazendo recreação do lado de fora.
Numa destas vezes, o Ricardo Lian (onde anda ele?) apitou dentro e depois exageradamente assoprou o apito do lado de fora. Eu passei perto dele e, como sempre provoquei: "JÁ APARECECEU...!!", eu disse. Ele ficou enfurecido e me empurrou, coisa que eu respondi com um vigoroso pontapé. Ele devolveu a pernada e, ficamos trocando golpes até que a Dna. Elizabeth, desesperada, correu em nossa direção e, enérgica gritou: "VOCÊS POR ACASO ESTÃO NUMA JAULA??!!!". Ricardo tentou argumentar, mas ela interrompeu. Não quis nos ouvir. Fomos os dois para a orientação ouvir sermão da Dna. Virginia (também não sei dela). No dia seguinte tivemos que fazer uma pesquisa em conjunto e fazer um trabalho sobre "a convivência e aprender a respeitar os demais". Claro, a intenção era que continuássemos amigos. E de fato continuamos.

Na próxima vou falar das meninas. Por muitas eu me apaixonei.
Inclusive da Tania, que era baixinha, e dizia que na casa dela nem os cachorros cresciam.

Até depois,
(continua...)


Disputávamos as eleições para a diretoria do Cooper bar. Vários candidatos apareceram. A maior disputa era para presidente. Não sei porque, na primeira série não concorremos por chapas. As candidaturas foram independentes.

Eu, quando percebi, que alguns candidatos fortes estavam disputando a presidência, candidatei-me a Gerente Geral.
Não houve campanha. Apenas na hora de votar, as pessoas escolhiam os nomes no papel mimeografado.
O resultado para presidente foi uma barbada: Roberto José Pinto. Como Vice eu não me lembro quem ganhou. Para tesoureiro foi o Henrique Prata. A Ione (não lembro o sobrenome), foi eleita primeira secretária. Eu perdi para a Maria Silvia Spina, que ganhou de mim pela diferença de dois votos (informação dada pelo prof. Daniel Bampa Neto).

O bar começou a funcionar. Cada semana, uma equipe da primeira série trabalhava no bar. Na hora da recreação era um pandemônio. A bagunça começava na fila para comprar a ficha. Aliás tinha fila para tudo. Fila no bar, nos jogos da recreação, no bebedouro. Acho que era a forma mais democrática de atender a todos.

A nossa turma, não sei porque motivo, tinha as garotas mais bonitas do ginásio.
Tinha uma menina que morava em Colina e se chamava Marina. Ela vinha sempre com o Antonio Luiz Franco Moreno, que também era de lá. Esses dois, juntamente com o Abílio Junqueira Franco e o Luiz Lemos, vinham todos os dias de Colina para Barretos.
Além da Marina, eu me lembro da Marilda, da Tania, da Denise, da Zezé (Maria José pires Mafra), da Silvana Nogueira (irmã do João Paulo),da Ana Silvia (que foi até, princesa da Festa do Peão), Beatriz Prata (o mesmo nome da minha filha), Juliemy , Maria Luiza...enfim não quero ser injusto, mas de fato tinha ainda muito mais, o problema é que não me lembro do nome de todas.

Não sei se ainda chamam assim, mas nesta época nós organizávamos umas festas que se chamavam "brincadeira dançante" (não sei porque..dançante de fato era, mas ninguém ía lá para brincar). Era comum nos sentarmos na sorveteria Oásis e a parede estava coberta de cartolinas com os anúncios das tais "brincadeiras".

Eu era o "patinho feio"...patinho feio não !! Na verdade eu era um verdadeiro "mané", porque eu não tinha vocação para galã, não sabia dançar, mesmo que soubesse era tímido, afinal ...o que eu ia fazer lá ?!
Mas...tudo bem, lá estávamos vendo os bonitões dançando com as bonitinhas.
Mas afinal, todos sabemos que alguns garotos têm sorte com as garotas e outros são bons no esporte.
Eu nem tentava a sorte com a garotas, em compensação......eu era horroroso no esporte !!!!!!!!!!!

No ginásio, nós tínhamos uma biblioteca. Quase não era freqüentada, mas como eu adorava ler, ofereci-me para tomar conta dela nos intervalos. As professoras Doris e Zaíra adoraram.

Lá, eu me enterrava numa pilha de livros e lia, lia, lia...mas minha cabeça sempre estava pensando em alguma garota lá fora. Olha eu me apaixonei por diversas colegas de turma, o que não é vantagem nenhuma. Não era o único. Também, com um elenco daquele...só se eu fosse cego !

A naturalidade com que conversávamos com corpo docente era de chamar a atenção dos tradicionalistas. Não chegávamos a tratá-los por "VOCÊ", o tratamento era "SENHOR", mas havia muita naturalidade.
Uma das coisas que uma professora do Estadão estranhou muito , em certa ocasião e comentou na minha frente, foi que ela entrou numa sala de ex-alunos do Vocacional e, ninguém se levantou para ela.
Este conceito de reverência desnecessária, esta informalidade no trato, esta diminuição de distancias, nos foi incutida pelos próprios mestres vocacianos.
O que importa é o que você pensa, e o conhecimento que transmite. "Isto é resquício da monarquia", certa vez me disse o professor Antonio de teatro.
Afinal, a prática é o critério da verdade. Nada é verdade, se não for praticado.

E assim vivíamos, sempre ouvindo, aprendendo, porém indagando, contestando e transgredindo o que era entulho autoritário.

Os meses foram passando,minhas notas na caderneta eram esquisitíssimas para quem não era do nosso clã.
Eram em forma de gráficos , lembram ? E as notas de conceito valiam mais do que as notas da prova. Era a justiça batendo às portas da educação. Era a justiça social sendo realizada. Era a coerência sendo praticada. Era o VOCACIONAL, ERA O VOCACIONAL, ERA O VOCACIONAL, ERAMOS NÓS...TODOS ALUNOS E PROFESSORES ENVOLVIDOS COM O MAIS SÉRIO PROCESSO DE ENSINO QUE ESTE PAÍS JÁ TEVE.

Depois continuo. Eram os anos 60...é proibido proibir.


Dalton

DEPOIMENTOS: Dalton Souza Genestreti Jr. T66 - "Saia daí agora" (1a parte)

"Saia daí agora" (1a parte)

Dalton Souza Genestreti Jr. T 66

Meu pai parou seu fusca azul claro na porta do Vocacional. e entrou dentro da escola sozinho. No carro ficamos minha mãe, meu irmão e eu, bastante ansioso. Na verdade, eu não tinha conseguido aprovação do Estadão porque tinha ficado muito nervoso na hora da prova. No Vocacional, os examinadores eram todos muito afetivos e pareciam torcer para que todos entrassem no curso ginasial. Depois de alguns minutos que pareceram horas, meu pai saiu do prédio (ainda era o antigo, onde depois funcionou o "Paulina Nunes") em passos rápidos. Olhou pára mim no banco traseiro do fusca e disse: "saia daí agora". Tremendo e sem entender nada eu obedeci, então fui abraçado por ele que disse - "quero ser o primeiro a te abraçar, você entrou em décimo terceiro lugar". Começava aí, uma das experiências mais marcantes em minha vida. Eu estava no Vocacional. Era 1966.

Antes do primeiro dia de aula, fomos chamados para comparecer no ginásio. Como era comum em Barretos, assim como em toda a cidade de interior, encontrei diversos conhecidos e amigos, que já tinham estudado comigo ou simplesmente havia visto andando na rua.

Uma gincana, foi o que nos propuseram. O que ?? Gincana ?!! Eu era o garoto maais tímido da cidade. Não conseguia dar bom dia a ninguém sem ficar vermelho. Junto com uma porção de alunos e alunas dentro do pátio de uma escola desconhecida e, ainda por cima, praticando brincadeiras que eu tinha vergonha só em pensar. Fui ficando para trás...para trás, me esgueirei num canto, até que escapei para um lugar onde não havia ninguém. Lá sentei e fiquei esperando as horas passarem. Daí há pouco, o professo José Carlos de artes plásticas me encontrou escondido e me conduziu até uma fila, onde todos os meninos tinham que pegar uma maçã com a boca, dentro de um balde dágua.

Mais uma vez consegui escapar e fugi para a entrada da escola. Quando me ví na rua, saí correndo em direção ao ponto de onibus. Peguei o primeiro "Sarri" que passou. Fui parar na praça, perto da minha casa. Ótimo, eu tinha escapado. Só voltei no primeiro dia de fato.

O primeiro dia foi bastante formal. Todos os alunos ficaram sentados ao redor do pátio em cadeiras de madeira. no palco os professores em uma mesa grande. Os alunos da primeira série ficaram agrupados no mesmo espaço. A diretora Yara Boulos abriu a solenidade e falou um pouco sobre o ensino vocacional. Os antigos alunos leram como um grupo Jogral uma mensagem de boas vindas. Com a nossa entrada, o Vocacional passava a completar o quadro do ginasial com as quatro séries.

Em seguida iniciou-se uma cerimonia de entrega de etiquetas com os nossos nomes escritos, que deveriam ser usadas no peito, até que os colegas antigos, e nós mesmos, decorassem os nomes de todos.

Fomos separados em primeira séria A e primeira série B. Fomos para as classes.

A primeira surpresa !!! Ao invés das tradicionais carteiras, vimos mesas de fórmica coloridas, e cadeiras ao redor delas. Sentamos como pudemos nos dividindo em grupos.

"Atenção, dividam-se em equipes de cinco", dizia uma professora de avental branco.

Fomos informados que as aulas poderiam ser ministradas para turmas de trinta alunos, ou para turmas de 15, dividindo a sala em dois e alternando as matérias depois do sinal.

Nosso horário era cheio de letras. Matemática era "M", Estudos Sociais era "ES" e assim por diante.

Mas a gincana na verdade estava para começar. Cada matéria pedia uma pasta. Dependendo da matéria, a pasta era recheada com um simples caderno de 50 folhas, ou uma infinidade de materiais diversos (como era o caso de artes plásticas ou artes industriais). Os professores, todos muito jovens, usavam as mesmas roupas que usávamos e assobiavam pelos corredores as musicas que gostávamos de ouvir.

Matérias diferentes,como teatro, práticas agrícolas, educação doméstica, passaram a fazer parte de nosso dia a dia, bem como nosso vocabulário era enriquecido por novas expressões, além de incentivos à contestações e indagações, coisas que nunca tivemos o privilégio de praticar.

Não era o professor quem mudava de sala após o fim da aula, mas os alunos que mudavam de sala. Naquele prédio, tínhamos a eterna sensação de improviso, pois as acomodações eram provisórias. falávamos sempre sobre "o dia em mudaríamos para o prédio novo".

Lembro até hoje quando, num dos intervalos (tínhamos 15 minutos pela manhã, duas horas de almoço e, quinze minutos à tarde) todos começaram a gritar eufóricos e aplaudir. Na porta da diretoria, Dna. Elizabeth (a nova diretora) recebia sorridente a notícia dos engenheiros, informando que o prédio novo já estava pronto e em condições de receber os alunos.

Começou a operação mudança. Além das tais mesas de fórmica, haviam também pequenas carteiras de madeira envernizadas que no decorrer do ano eram devidamente rabiscadas, desenhadas e viviam cheias de corações preenchidos com os nomes de alunas e alunos que se apaixonavam. Pois bem, tivemos que lixar todas as carteiras, para depois enverniza-las novamente, afinal, já que iríamos para o prédio novo, precisávamos de móveis mais renovados.

Passamos uma tarde inteira na "operação lixamento". Menimas, meninos, professores, todos participaram. Eramos como um grande grupo de irmãos que iam para a casa nova. Que saudade daquele dia. Daquela sensação.

Um pouco antes, fomos até o prédio novo e plantamos diversas árvores. Voltamos imundos para casa. Sujos de terra, de natureza, exatamente como a vida deveria ser.

Nossos pais, acostumados ao ensino tradicional, estranhavam nossas atitudes, nossas conversas e a maneira como contávamos o nosso dia a dia.

O prédio novo era imenso. No prédio antigo, tínhamos até uma casinha em frente à escola para atender às necessidades das aulas de educação doméstica. Nas novas instalações não. Havia uma sala preparada para isso. Sem qualquer preconceito, garotas e garotos cozinhavam, pregavam botão, faziam barra de calça, ao mesmo tempo que usavam o torno de madeira, a serra elétrica, as massas de modelagem, tintas à oleo, enchada, pá, bola de voley, basquete etc..

Eramos obrigados a assumir responsabilidades tais como: A primeira série cuidava do "barzinho" ou "cooperbar", que servia refrigerantes e doces para a escola. A segunda série administrava a cooperativa, que vendia cadernos, lápis e demais objetos de papelaria. A terceira série cuidava do "Banco Escolar Cooperativo" o BEC e a quarta série do escritório comercial.

O Roberto Pinto foi o presidente do bar, e da cooperativa (ganhou por pouco do Galetti da chapa 2) e o Matinas foi do Banco.

Barretos era o universo estudado na primeira série. O Estado de São Paulo na segunda série, Brasil na terceira e o mundo na quarta série. Quando o professor Gediel dizia para a turma enfileirada "Atenção escola...firmes...fora de forma marche" , todos pulavam com o braço erguido e gritavam... BARRETOS!!! ou o universo que era estudado na respectiva série.

Para não cansar muito, eu vou parar por aqui e depois continuo.


Dalton Souza Genestreti Jr. T 66 - Embaixador Macedo Soares - Barretos
Primeira série "A"
(Adv/Jornalista/Historiador )

DEPOIMENTOS: O que é GV??? Marta Gomes de Paula T68

O QUE É GV ???? Recepção no Primeiro dia de aula


Marta Gomes de Paula T68 Barretos


O que é GV ?????
Primeira pergunta que nos vinha à mente (ou alguém nos assoprava rsrsrsrs) quando pré adolescentes ingressávamos no nosso "mundo novo, de crianças quase grandes ".
Como nos sentíamos importantes !!!!!

Tínhamos uma equipe de "adolescentes" nos aguardando. Como eram interessantes!!!!
Grandes!!!! Inteligentes!!!! como queríamos ser como eles !!!! Nos recebiam com gincanas, explicações e abraços.
No meu caso marcaram as presenças do Marcelo Bezerra, moreno, belo e o Mauricio Jacinto, o mais loiro, cabelinho liso e ambos com cabeleira não tão curta (típico da época), sorridentes e donos da verdade, cheios de si, os chamados VETERANOS.
Ambos me enxergaram.., sorriram para mim como se fossem meus irmãos mais velhos....yuuupiiiiiiiiiiiiiii, eu era gente!!!! eu estava lá!!!!!! Aquilo me fascinou logo de cara.

Daí foram chegando os outros envolvidos e ali se misturaram professores, orientadores, alunos e na coordenação, assim ficou na minha memória, o prof. Espedito. Pronto!! me apaixonei. Achei tudo aquilo tão alegre, lindo, promissor, propondo que eu sonhasse ainda mais, reforçando minha mente criança que já tinha facilidade em criar mundos paralelos, realidades que eu queria viver. Isso mesmo. Eu, na infância, já contornava as águas e tentava viver o que me fazia bem. Brincamos, pulamos e, enfim, a primeira aula. Nos dividiram por tamanho, fiquei na turma B. Nesse mesmo dia, foi lançado o tema do trimestre:


O QUE É O GV ??? E eu já me transformei, definitivamente, numa vocaciana. Os assuntos eram divididos por série e em todas as áreas era o mesmo.
1ª série: O que é GV e a Cidade de Barretos
2ª série: O estado de São Paulo
3ª série: O Brasil
4ª série: O mundo.


Tudo era tão bem elaborado e harmonioso que não tinha como nos perdermos do assunto. O lado, na época aterrorizador pra alguns, mas verdadeiramente formador de opiniões era o fato de que nossos conceitos eram ditados pela nossa “participação” nas aulas. Exigiam nossa opinião. Nos estimulavam a pensar, questionar, entender.


Hoje trocamos a pergunta: O que é o GV, por outra, latente no coração de cada vocaciano:
Cadê o GV????



Nos mobilizamos, nos juntamos e agora somos novamente “uma grande equipe” que crê que a matemática mais importante é a da vida, que soma cidadãos, divide em talentos, multiplica esperanças e diminui distancias.
Sou, orgulhosamente, vocaciana, como você, amigo, mesmo que ainda virtual.

Bjs a todos e feliz 2010

Marta Gomes de Paula GV Barretos 5/01/2010